domingo, fevereiro 08, 2009

Um belo Domingo (de noivado?)

Eu sei lá o que escrever e aliás, vocês devem estar-se nas tintas para o que tenho a dizer. Mas mesmo assim vou contar a história da formiga e do elefante sonhador. Ou seria da lombriga e do irrelevante procrastinador? (estou muito dado às delícias da cacofonia) De qualquer uma das formas, sendo a história de uma amiga e do deselegante delator, adivinha-se um argumento romântico, quiçá sedutor e com laivos de mistério policial. Esta é a história de um crime. É a história de como um paquiderme não teme as leis de Newton, uma história de amor como um qualquer Benjamim Button, indiferente à temporalidade e ao finito da paixão, para com um insecto de algumas patas, um amor em guerra de tamanhos e proporções. Ou a história de como um nemátode se aloja no intestino de um deprimido crónico, autarca em funções, anarca de ideais, desapontado com o rumo que a política descreve em torno de um mesmo ponto giratório, e q falatório se gera, quando o nosso autarca se recusa a assinar o que vereadores astutos ou corruptos decidem em reuniões intermináveis, e decisões que se arrastam, que não se tomam, e que não chegam a ver a luz do dia, guardadas na gaveta do nosso artista, que se queixa das dores da alma e potencialmente da barriga e de outros orgãos, enquanto o nosso nemátode se passeia pelo sangue que deixou de correr nas veias do outrora poeta, e já nem sabe se que se o consome é o marasmo da sua vida ou o seu parasita que o come por dentro e se reproduz e vai tomando conta de um corpo que não é seu, alimentando-se do pouco sangue que resta a este nosso triste actor. Faltando por fim falar de Jorge e Madalena, um crime o outro castigo, um Golias o outro David, ambos confiantes de que os seus planos para um amanhã que não vai vir se confirmarão assim que o sol se espreguice nos seus primeiros raios, que as nuvens não irão tapar, porque há forças que nasceram para vencer, outras que não o chegam a ser. E assim Jorge, rapaz feito, homem por fazer irá entregar-se aos braços e aos encantos de uma outra Madalena, que por sua vez pertencia a outro Jorge (uma pertença apenas presente na cabeça e no coração de Jorge, visto que esta sua Madalena a ele nunca se entregara, e até o negara, mas uma paixão que Jorge não esquecia e não se admitia que esta pudesse ter como protagonista um outro Jorge que não ele), e eis que Jorge, seguidor de Madalena, dos seus passos na estrada e que passara e espreitara para um carro de janela embaciada, no momento em que duas almas consomavam qualquer coisa fugaz e passageira, fruto de uma infantil bebedeira, um atravessar de estrada fora da passadeira, incautos e que naquele seu impulso animalesco, proporcionaram um cenário dantesco, quando o segundo Jorge descobre a natureza da sua segunda Madalena, o seu pecado que não perdoa, e o atordoa, e o magoa. E que na sua dor que não qualifica, que não quantifica, na sua raiva surda, cega mas não muda, acrescento que geme, ao comunicar Madalena, escondido no seu seguro anonimato, que é para isso que serve a não identidade, é a segurança do nada, repito e Jorge também repete que viu de seu incauto Jorge, e acrescento do que ouviu, e que Madalena não perdoa, por que haja qualquer coisa que doa, e se este alarme soa, é um avião que aterra, já não voa, e assim fica por terra aquela boda e as promessas que não chegam a ser feitas, desfeitas do zero, ou do zero e meio se assim podemos chamar ao ponto a que ambos chegaram desta sua relação. E assim houve um paquiderme que se desafia e desafia aquilo que outros julgaram por impossível, e que não aceita, e também de um verme que definha o autarca que definha pelo seu desacreditar nas pessoas e não acreditar, como o paquiderme, mais na possibilidade da sua paixão, desapaixonado, e nem desconfiar que não será ele um verme, mas antes que o verme o consome por dentro e dele se alimenta e que houve também um crime castigado pelo cego veneno do ignóbil Jorge. E podem vocês leitores, se tiveram a coragem de chegar até aqui desta vossa leitura, ou porque tal como eu pouco tenho que fazer, ou porque têm um q de masoquismo, e voltando ao fio da meada, se tiveram essa coragem cabe a vós tirar desta história, deste enredo, desta teia, as vossas conclusões, pois esta história é verdadeira e eu sou um paquiderme e uma formiga e sou um verme e sou autarca, e o meu nome não é Jorge nem Madalena, mas sou Manolito, o Gafotas, que aqui atesta, que desta meia-hora perdida a rabiscar fraca poesia, chega a uma definição e inconclusão, que pode ser-se tudo, mas não pode ser-se tudo ao mesmo tempo.

Abraço,
Manolito